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Sobre a arrogância

Já faz muuuuito tempo que estou querendo escrever sobre este assunto! Primeiramente porque é um tema que já pesquisei minuciosamente ao longo das décadas e que venho tratando dele pessoalmente, como sintoma de doença mental, nos últimos 15 ou 20 anos.

Sendo assim, seja na teoria ou na prática, falar de arrogância para mim é algo bem comum, infelizmente. Graças a Deus posso falar que 'já fui muito mais arrogante' do que sou hoje, o que não significa lá grandes coisas porque de acordo com meus pais, parentes e amigos eu continuo sendo uma "mala sem alça". Poderia ser pior.

Acredito, porém, que uma certa dose, mínima, de "arrogância", seja necessária para nossa consolidação no mercado de trabalho, pelo menos. Quando percebemos que devemos, de certa forma, "remar contra a maré" tendo em vista um objetivo altruísta, por mais remota que sejam as chances das pessoas perceberem isso, mais devemos lutar para que este objetivo se realize. Exemplo prático, real e contemporâneo:

Desde que comecei a ter certos atritos com os diretores teatrais da cidade, porque quando dois arrogantes se batem de frente, a coisa costuma ficar feia, venho percebendo um ponto em comum na percepção de todos eles. Eles tratam o público como se fossem idiotas. Como se cada pessoa da platéia fosse absolutamente incapaz de raciocionar qualquer coisa, de ter um momento de introspecção, enfim, de PENSAR. E, antes mesmo de formar público para a comédia stand-up aqui em Belo Horizonte, minha maior preocupação sempre foi e ainda é o respeito à inteligência do público. Claro que todos podem dizer, "sabemos que a massa é burra!" e talvez estejam certos. No entanto, para minha grande satisfação, a comédia stand-up não é feita para as massas, não precisa agradar gregos, troianos e atleticanos - mesmo porque, agradar um atleticano hoje em dia é como tentar fazer uma mulher feliz: gasta-se muito dinheiro para saber o resultado por antecipação, ou seja, não vai dar certo.

Voltando ao assunto. O diretor do filme TROPA DE ELITE, José Padilha, nos presenteou com uma chance inacreditável de provar esta teoria na prática - a da "massa burra", não a da mulher infeliz, que é muito mais fácil de verificar a qualquer hora do dia, em qualquer lugar, com qualquer mulher.
Ao assistirmos a "versão pirata" do filme, lançada em dvd ANTES da estréia nos cinemas, percebemos uma "força" no filme que se perdeu um pouco na versão "oficial", ou como costumo chamar, na versão DIDÁTICA do longa-metragem.

Percebam que a narração em "off" do nosso querido "herói-fodão", Capitão Nascimento, sofreu pequenas porém sugestivas modificações. Na cópia pirata ele se refere aos playboys que financiam o tráfico e aos policiais corruptos como "cúmplices"; já na "versão didática" eles viraram "bandidos também". Fico imaginando direitinho a cena do José Padilha na ilha de edição, falando com todo mundo: "ninguém vai entender essa palavra, 'cúmplice', e mesmo se entender ninguém vai saber o que significa". É uma pena. No fim das contas, na desesperada busca por deixar todo produto cultural mais 'atraente', peca-se por alimentar o círculo auto-depreciativo do "alcance intelectual" do público. E quando se faz isso, obviamente não podemos esperar que de repente aconteça um surto de "inteligência" que irá elevar o "nível" das nossas produções cinematográficas, teatrais, literárias, musicais, etc.

Fico muito triste quando vejo qualquer atitude perto de mim que lembre a arrogância, seja ela velada ou não. Talvez porque isso me faz lembrar de como eu era há alguns anos atrás, talvez pelo fato de já ter compreendido que a arrogância anda de mãos dadas e praticamente em simbiose com a ignorância. Essa necessidade infantil de querer "controlar" pessoas, atitudes, reações e pensamentos, essa mania débil mental de achar que precisamos "testar" o limite de tolerância dos indivíduos, enfim, esse imenso arsenal de atitudes estúpidas (frases 'de efeito', clichês, indiretas, provocações, etc.) perde totalmente o impacto quando saímos da nossa zona de conforto e decidimos nos colocar no lugar do outro,
stepping on someonelse´s shoes, por assim dizer. Não apenas para SENTIR a realidade do outro mas para entender todo o processo histórico, de vivências pessoais, que levaram aquela pessoa a agir ou reagir de uma determinada forma. Deixar de "rotular" o outro é um exercício que deveria figurar no quadro de esportes olímpicos de Pequim 2008. Ou então talvez eu esteja apenas sendo arrogante, achando que no fundo todas as pessoas gostariam de se entender e conviver em harmonia.

O prazer do arrogante é semear a discórdia, a ira e a indignação. Claro que estou falando de (muita) experiência própria e não me orgulho disso.

Ranieri Lima, 31, é metido à besta nas horas vagas... mas graças a Deus tem trabalhado muito ultimamente.

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