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AUTO-ENTREVISTA

Eu-Jornalista: Randielson, você já faz comédia stand-up há uns 6, 7 anos... e nunca saiu do lugar. Nunca "deslanchou". Nunca lotou uma casa de espetáculos. Nunca fez sucesso na vida em nenhuma área de sua formação e/ou educação. Nunca fez parte de nenhum grupo e nunca foi aceito por nenhum grupo que já existia. Sempre foi demitido de todos os empregos que já teve. Ou seja, uns 2 ou 3. E nunca foi pro exterior. Só agora isso começou a mudar. E aí?
eu-mesmo: Em primeiro lugar, obrigado por lembrar meus fracassos assim tão bem. Em segundo lugar, é Ranieri. Ra-ni-e-ri. Com "erre-i" no final, por favor. Respondendo sua pergunta, o que mudou agora foi que eu fiquei mais velho. A 6, 7 anos atrás, eu tinha o quê - uns 25, 26 anos de idade - e agora tenho 31. Pode não parecer, mas isso influencia muito.

Eu-Jornalista: Como assim?
eu-mesmo: Passar dos 30 é muito ridículo. Você conserva todo o aspecto jovial dos seus 20-e-poucos anos de idade, os cravos, as espinhas... o apetite sexual. Ao mesmo tempo vem as dores crônicas, bursite, artrose, reumatismo... sem falar nos pêlos que nascem no nariz, ouvido e na parte superior da bunda. Todos inúteis e dispensáveis. Mesmo assim, em lugares que você não consegue tirar! Talvez essa "mistura" de contrastes faça com que as pessoas te ouçam com mais atenção. De repente você ganha mais credibilidade. Só pelo fato de estar um pouquinho mais velho. É foda. Mas acontece.

Eu-Jornalista: E a questão do grupo, Ramires? Como você se sente com as apresentações do 'Queijo, Comédia e Cachaça'?
eu-mesmo: Ranieri. É Ranieri. Sim, essa questão do grupo é interessantíssima. Tenho aprendido valiosas lições de tolerância, humildade, respeito às diferenças e senso crítico com cada um deles. Existe, obviamente, uma afinidade maior entre um ou outro, e eu também me identifico mais com alguns do que com outros; mesmo assim, nos respeitamos. Além de tudo, acho ótimo o fato de existir uma admiração verdadeira entre a gente. No fundo todos somos apaixonados pelo gênero COMÉDIA STAND-UP e essa paixão nos dá forças para melhorar sempre. Esse é o nosso compromisso, pelo menos. Atingir um nível de espontaneidade no palco tão grande que as pessoas passem a achar que também somos "naturais" daquele jeito, fora do palco. É um aprendizado a longo prazo, mas que sempre traz compensações maravilhosas a qualquer momento.

Eu-Jornalista: Por exemplo?
eu-mesmo: As crises de riso! Como exercitamos constantemente o "músculo" do 'auto-riso', ou seja, rir das nossas próprias bobagens, manias, idiossincrasias, etc... tem hora que não dá para segurar. Todo mundo cai na gargalhada mesmo. Daquela que sai até lágrima e não tem jeito de parar... Saímos dos ensaios bem "mais leves" e com milhares de idéias para colocar em prática nas próximas apresentações. Com o tempo, a gente vai amadurecendo e as piadinhas idiotas que a gente morria de rir vão perdendo a graça. Aí a gente cria outras, muitas vezes até mais idiotas. E o "processo criativo" começa tudo de novo. É legal.

Eu-Jornalista: Tá, foda-se. O leitor não quer saber de nada que seja "bom", "legal" ou que "funcione". Conta aí pra gente qual foi a pior experiência que você já teve com a comédia stand-up e o que te levou a insistir no erro, quer dizer, continuar nessa babaquice?
eu-mesmo: Essa é uma ótima pergunta! Sensível, sutil, bem elaborada. Deixe-me pensar. Hummm... (pausa dramática). A pior experiência foi sem dúvida a "participação" no 'festival do humor' que rolou em BH há uns 5 anos atrás. Dentro de um shopping no centro da cidade, que nem existe mais, um local com péssima acústica, numa praça de alimentação... nada a ver. Ninguém riu de nada, o som estava horrível, nem a gente entendia o que a gente falava. Foi um pesadelo, uma tortura. E ao mesmo tempo, foi o que me fez perceber que eu precisava fazer aquilo para sobreviver. Para o resto da minha vida.

Eu-Jornalista: Vai ser burro assim lá longe. Por quê?
eu-mesmo: Porque nenhuma outra profissão que eu conheço tem como pré-requisito a humildade, o compromisso com a ética, com a liberdade de expressar sentimentos, idéias e emoções... a busca da naturalidade absoluta. Quer dizer, talvez a MÚSICA proporcione uma válvula de escape bem parecida, na verdade. Ou ser modelo de pintura de nu artístico. Também dá uma certa "liberdade" e tem uma "naturalidade" envolvida. Fora isso, você está sempre PRESO a uma hierarquia, a um estabelecimento de prioridades, prazos, emergências... Claro que na comédia stand-up temos tudo isso, mas a ESCALA é um pouco diferente. Quer saber? A comédia stand-up é o único gênero que eu conheço que, não importa como esteja o seu humor, você tem que DESABAFAR diante de um público que, mesmo se for com a sua cara ou não, está ali para te ouvir! É simplesmente magnífico que exista algo assim, tão perfeito. Nem terapia de grupo é tão eficiente. Nem terapia NENHUMA é tão eficiente, até porque nela você GASTA dinheiro e no stand-up comedy corre o risco de ganhar. Imagina! Receber por poder DESABAFAR! Que idéia genial!

Eu-Jornalista: É. Tô vendo que essa entrevista não vai a lugar nenhum. Você está feliz demais pro meu gosto. E isso me irrita. Gostaria de deixar uma frase, um pensamento, uma mensagem para os nossos leitores? Se não quiser também, foda-se.
eu-mesmo: Sim. Adquirir maturidade é a capacidade de se impor frustrações a curto prazo. Quando deixo de comer uma sobremesa, por exemplo, me sinto mal na hora, mas depois fico feliz, porque sei que cuidei um pouco melhor da minha saúde. As pessoas hoje em dia são incapazes de se impor pequenas frustrações. Isso gera muita angústia, violência e conflitos desnecessários. Saber lidar com uma opinião ou com um gosto diferente do seu é se impor uma "pequena frustração" a curto prazo, tendo em vista uma qualidade de relacionamento muito melhor no futuro. É isso. Claro que nenhuma frase dessas é minha, plagiei não sei de quem, mas é verdade. Eu acho.

Comentários

  1. Eu quase jornalista:Paola,voce acha interessante seguir os passos desse rapaz,o Ramsés?
    Eu,a Inadequada:Bom,ainda nao sei...
    sei que me divirto a valer com ele e os demais integrantes !E porque eu nao tenho dinheiro pra terapia nem pra remedios...
    A propósito,vc teria um valium ae?eu troco por fluoxetina!
    Eu quase jornalista:não,eu tomo ritalina.Mas obrigada por sugerir uma troca de remédios...
    Eu,a Inadequada:Pena,gostaria de tomar um valium esfarelado numa bola de sorvete de creme hoje...
    Eu quase jornalista:(Boca aberta com tal declaracao...)e....e...então...pra encerrar esse post entrevista:
    Qual sua cor preferida?
    Eu,a Inadequada:eu adoro azul,me passa uma sensacao de frescor...de leveza...
    ¬¬

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  2. Hahaha!! Citando Woody Allen "Don't knock masturbation — it's sex with someone I love." Esta entrevista RAMIRO digo RAMEIRA. E otima, Quase uma masturbação jornalistica!

    Forte abraço Alexandre. :-D

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