Somos todos movidos a Raiva. E é uma pena que o assunto ainda seja tratado como tabu na sociedade. Pior ainda é que, nas raríssimas oportunidades em que surge na mídia, o máximo que se atinge de "profundidade" sobre a discussão do tema é "eu acho que a raiva, às vezes, pode ser sim, importante para alguma coisa".
O que é uma frase, no mínimo, idiota. Substitua a palavra "raiva" por qualquer outra e a "afirmação" continuará inócua do mesmo jeito. "Eu acho que a farinha de trigo, às vezes, pode ser sim, importante para alguma coisa".
Vamos brincar de dicionário:
Substantivo
Singular | Plural | |
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Feminino | raiva | raivas |
- acesso de fúria; arrebatamento violento; cólera, ira
- Tremia e gritava de raiva.
- sentimento de irritação, agressividade, rancor e/ou frustração, motivados por aborrecimento, injustiça ou rejeição sofridas, etc
- aversão em relação a algo ou alguém; ódio, horror, ojeriza
- Tomou raiva de viajar.
Em alguns casos, foi possível encontrar definição de "raiva" como sendo "uma grande paixão". Opa! Será? É. Pode ser. Considerando que quando estamos sentindo muita raiva de alguém ou de alguma coisa, não conseguimos parar de pensar "naquilo", direcionamos todas as nossas energias para "contemplar" o objeto, a situação ou o indivíduo causador daquela raiva. O que é algo bem semelhante ao fenômeno ocorrido durante um arrebatamento de paixão, não é mesmo? Afinal, sei por experiência própria que quando estamos apaixonados, também só pensamos "naquilo".
Precisamos, portanto, falar mais sobre a raiva. Urgentemente. Em uma era dominada pela estupidez e ignorância dos "haters" das mídias sociais, que se alimentam da discórdia causada por eles próprios - hoje em dia popularmente conhecida como "treta" - ir além do "pode ser importante para alguma coisa" é essencial.
Sempre fui movido pela raiva. Sempre. Não me lembro de nenhuma época em que fiz alguma coisa porque gostava de fazer ou porque me proporcionava alguma sensação de prazer, satisfação, pertencimento a um grupo, nada disso. A motivação primordial era sempre "Ah é? Você está se achando superior a mim, seu filho da puta? Então vem pra porrada!". E aí eu apanhava. Porém, batia também, vez ou outra.
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Aí vão outros exemplos! (reais ou fictícios)
- O menino de 12 anos que morava na roça, sem pai, e tirava vários homens de cima da própria mãe, quando chegava do trabalho, uma vez que esta "mãe" acreditava que a única forma de conseguir o sustento para os filhos era às custas do próprio corpo. A raiva de uma realidade brutal o levou a buscar o caminho da justiça, da ética, do cumprimento das leis e, creio eu, da mais absoluta e profunda aversão às mães covardes, que buscam a solução da "lei do menor esforço" para prover para seus filhos.
- O poeta que nunca foi nada, nunca quis nada, nunca quis ser nada, porém, à parte disso, tinha em si "todos os sonhos do mundo". O que acabou levando-o a assumir diversas identidades e escrever sob diversos heterônimos de forma absolutamente brilhante, genial e inspiradora até os dias de hoje.
- O herói improvável que na infância presenciou a morte dos pais e dedicou sua vida inteira a se preparar para evitar que a mesma tragédia se repetisse com outras pessoas, tornando-se o maior detetive e defensor da cidade de Gotham.
- O jovem que tinha convicção absoluta que algum dia seus talentos seriam valorizados, porém se esqueceu de que morava no Brasil, onde cultura, educação, senso crítico e informação são vistos como defeitos e pré-requisitos fundamentais para justificar demissões, falta de empregabilidade, pés-na-bunda das mulheres que já namorou e sumárias exclusões dos grupos de stand-up comedy que formou.
- O Wolverine.(precisa dizer mais alguma coisa?)
- O Cartman. (de South Park)
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Todos os exemplos acima comprovam a mais óbvia e ululante realidade. A de que só a RAIVA nos impulsiona a FAZER as coisas, a sair do lugar, a deixar nossas zonas de conforto, a enfrentar nossos medos, a contradizer nossos pais e familiares, e, em última análise, a realizar nossos SONHOS.
Enfim, precisamos falar mais sobre a raiva.
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