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Descobri recentemente que estou vivenciando um conflito muito interessante. Quer dizer, muito ruim, na verdade, porque é comigo. Se fosse com qualquer outra pessoa, seria interessante. Então, do seu ponto de vista, amigo leitor, espero que seja algo pelo menos curioso.

De um lado, veja bem, está uma compreensão cada vez maior de que o mundo corporativo é burro. Isto não é nenhuma novidade, principalmente no caso do mercado em Belo Horizonte. A "ausência completa de vida inteligente" é facilmente comprovada em quaisquer segmentos, desde o ramo de alimentos, passando pelas lojas de roupas, eletroeletrônicos, bancos, escolas, faculdades, gerências de RH de pequenas, médias e grandes empresas e a padaria ali da esquina. Acredito que tal fenômeno tenha se agravado com a crise no país. De outro lado, está a convicção antiga, desgastada, fora de moda e ridicularizada de que ser honesto é "bom".

Vamos a alguns exemplos da primeira parte da questão! Recentemente conheci uma gerente de RH que é a incorporação de todas as coisas que eu odeio, desprezo e abomino na vida. Bom, quase todas. Ela é mulher e, bem, disso eu confesso que gosto bastante. Porém, feita esta pontual exceção, temos ali tudo de "errado" e ruim que nos faz perder a fé na humanidade. Entre as "preciosidades" que fui obrigado a escutar estavam - sem exagero - estas aqui:

"- Sou totalmente sincera. Odeio mentiras. Só no trabalho que ninguém sabe da minha vida. Para eles eu continuo muito bem casada, apesar de já ter me divorciado há mais de 01 ano. Para manter o emprego a gente tem que ser falso mesmo".
" - O SUS é ótimo. É excelente. É perfeito. É maravilhoso. Nunca demorei a ser atendida em nenhum Posto de Saúde. Esse povo que fala mal não sabe de nada".
"- As coisas que você gosta de comer e beber estão erradas. Você precisa se alimentar somente de folhas, sementes e água. Muita água. Bebo água o dia inteiro. Sou super saudável. As mulheres têm inveja do meu corpo".

(Observação: Não, não têm. Mas não têm mesmo. Sério.)



Sabe essas pessoas que vivem na "Perfeito-Lândia"? Onde tudo é bom, fácil, lindo, acessível, onde todas as pessoas são legais, simpáticas e educadas umas com as outras o tempo todo? Pois é.

Eu realmente, com todas as minhas forças, detesto gente assim. De verdade. Então, ter conhecido essa moça foi ótimo! Finalmente entendi que não posso me envolver com mulheres que nunca passaram nenhum tipo de adversidade em suas vidas e, portanto, são incapazes de compreender a realidade daqueles outros 99,9% da população que as enfrentam diariamente.

O grande conflito que se estabelece, portanto, para o meu já parco potencial de empregabilidade é o seguinte. Se fui criado de forma a ter a honestidade como um valor a ser cultivado, até mesmo cultuado, como é que vou me calar diante de tantas hipocrisias que vejo, mesmo de longe, no mundo corporativo?

Antigamente, vejam só, eu achava que seria possível sobreviver única e exclusivamente de shows de humor em empresas! Santa inocência! Levar a essência da comédia - que é a VERDADE, sem máscaras - a um ambiente onde todos usam "máscaras" o tempo todo para se manterem na profissão, obviamente não daria muito certo. 
Instaura-se, portanto, a boa e velha contradição. Ser um "miserável verdadeiro", ou "verdadeiramente miserável", como queiram, ou um "falso trabalhador", ou mais precisamente, um "trabalhador falso"? Por um lado, sim, teria condições de pagar minhas contas, por outro, sinto que ainda tenho uma alma e durmo com a consciência tranquila, sob um travesseiro recheado de boletos vencidos.

Constatar que a cada dia novos processos - ou ameaças de processos - são encaminhados para comediantes e humoristas em todo o Brasil, pelo simples fato deles falarem a VERDADE, verbalizando o chamado "óbvio ululante" é algo deveras desanimador. Porém, quando vejo atitudes nobres como as do Léo Lins (com seus shows "Bullying Arte") e Afonso Padilha (lendo uma ameaça de processo contra ele no palco, ao melhor estilo Lenny Bruce, e fazendo comentários absurdamente hilários sobre tal bizarrice!) sinto que ainda há esperança de um futuro melhor. Ou, enfim, um que seja ligeiramente menos hipócrita e autoritário.
Orgulho danado desses meninos.

Assistam!

Edson Junior

Léo Lins

Afonso Padilha

 



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